Pólos Orientadores


Na altura que escrevo este artigo está a haver mais uma sessão de teatro fórum, nas instalações da Associação Spin, no Bairro Padre Cruz. Enquanto alguns continuam a praticar, os outros, que esperam a sua vez, preparam a festa que vai haver amanhã à noite. É assim que tem acontecido, por estes dias. Formaram-se os grupos em que se ia trabalhar, com gente dos três projectos que estão a participar no estágio. E vai-se trabalhando. Uns numa actividade, outros noutra, em simultâneo e com o olhar a apontar na mesma direcção: o que temos em comum, o que conhecemos, o que podemos aprender, uns com os outros, uns com os outros, uns dos outros. O Luiz Pacheco, escritor, num texto chamado “Comunidade” fala sobre a família e da partilha como uma jangada. É uma imagem literária bonita, a da jangada. Aqui, alguns são família, outros não. Alguns são amigos, outros […]

Estágio Outros Campeonatos – Diário de bordo 1


Começou ontem um dos eventos que mais gozo e orgulho nos deu organizar.   Como a época exige, antes de começar o campeonato, há um estágio. Durante 5 dias vamos estar na Associação Spin, em pleno bairro Padre Cruz, com a prática e a metáfora do estágio de futebol.     Dizemos metáfora porque nem só de futebol se trata (sabendo que o futebol de rua está e estará sempre presente nas actividades do Outros Campeonatos).   Organizamos 5 dias de actividades, uma delas o futebol de rua. Além deste, há oficinas de upcycling e de alimentação sustentável. Há teatro fórum e uma incubadora de acção onde falamos dos problemas do dia-a-dia que se enfrentam nos bairros onde os nossos participantes vivem e a se procuram soluções para alguns deles. Trazemos também pessoas com histórias de vida inspiradoras para conversar com os nosso jovens. A seu tempo, saberão quem são. […]

O Grande Estágio do Outros Campeonatos



Perdidas na floresta Mesmo à saída de Belas encontramos um caminho pelo meio de algumas hortas okupas.   Quanto às hortas, pelas suas grandes dimensões e de tão bem muralhadas que estavam, ficamos a pensar que esta ocupação já foi feita há muito tempo. Infelizmente, não encontramos ninguém com quem pudéssemos confirmar esta suspeita. O caminho levou-nos a subir o rio Jamor, praticamente até à zona do Lisbon Sports Club, já bem para dentro da Serra da Carregueira.     Nem parecia que estávamos a 5 minutos da cidade. Sempre avistando infraestruturas que identificamos pertencerem ao Aqueduto das Águas Livres (sim, o que acaba nas Amoreiras, em Lisboa), fomos caminhando pelo meio da natureza. Vimos como o terreno é rochoso, confirmando o que a Natalina nos havia explicado no dia 1. As hortas já tinham ficado para trás, aqui a natureza já se exprimia com maior liberdade: várias espécies de […]

Diário de Bordo I Dia 4 I Como okupar um rio


O Jamor, as minas e o golfe Fizemos a visita da praxe à Natália, antes irmos ter com o Sr. Henrique.   Visitamos as Minas do Brejo e imediatamente percebemos a sua importância na economia familiar do Sr. Henrique: regar a cultura agrícola, dar de beber aos animais e, no passado, fonte de água para todos. As minas também passaram a ajudar no lazer, quando perto de duas delas o Sr. Henrique construiu um espaço de refeições e descanso.     Depois fomos ao Lisbon Sports Club, em Belas, onde o Nuno, o greenskeeper do campo de golfe, já nos esperava no seu buggy. Estava pronto para nos levar a passear ao longo da porção do Rio Jamor que corre na propriedade do clube. Informou-nos que fazem com regularidade um trabalho de limpeza e de manutenção de margens, aproveitando o rio como um dos obstáculos na prática do golfe. Já […]

Diário de Bordo I Dia 3 I Como okupar um rio



A água de Dona Maria Voltando a Dona Maria, revisitamos a Natália.   Ela entretanto já tinha feito pesquisas para nos ajudar sobre o rio Jamor, mas nenhuma conclusiva quanto ao local da sua nascente, aconselhando-nos a consultar as cartas militares. São muitas, as minas de água existentes pela zona, havendo por exemplo uma mesmo debaixo do principal largo de Dona Maria, o Largo do Chafariz. Disse-nos que esta é a zona de Lisboa com maior quantidade de águas subterrâneas, pelo que a etnografia local está intimamente ligada ao tema da água: as lavadeiras até aos anos 80 assistiam Lisboa com os seus serviços, havendo hoje em dia ainda as almácegas onde lavavam a roupa (atualmente as almácegas estão em propriedade privada, não podendo ser visitadas); os aguadeiros iam de Dona Maria para Lisboa para vender água. Existe a crença que estas águas têm propriedades medicinais e era costume beber-se […]

Diário de Bordo I Dia 2 I Como okupar um rio


À procura de uma nascente Queríamos começar pelo início, encontrar o local onde nasce o rio Jamor. Não foi fácil.   Contrariamente ao esperado, a web não informa acerca do paradeiro da nascente do Jamor. Tudo o que se lá encontra é uma vaga informação sobre como o rio nasce em Dona Maria, na Serra da Carregueira, concelho de Sintra. De câmara de filmar em punho, fomos nessa verdadeira expedição. E descobrimos o seguinte: a)      Dona Maria é uma pequeníssima aldeia nos subúrbios da Grande Lisboa, mas preserva ainda características bem rurais - pequenas quintas, um casario meio desordenado que desemboca em pequenos largos, estradas de terra batida e muitas fontes; em Dona Maria toda a gente se conhece e/ou tem grau de parentesco. b)      O rio Jamor vai ganhando diferentes nomes, dependendo do lugar por onde passa (ribeira de Belas, ribeira do Brejo, ribeira de Dona Maria, etc); nasce […]

Diário de Bordo I Dia 1 I Como okupar um rio



GANHÁMOS!   Pronto, já gritámos.   No passado sábado, tivemos a honra de ser convidados para o IX Torneio de Futebol de Rua do Bairro Padre Cruz.   A Associação Nacional de Futebol de Rua organizou um evento formidável, na recente praça de futebol de rua no coração do bairro. Foi com um enorme prazer que fomos, mais uma vez, até Carnide para conviver com os nossos parceiros; aqueles que nos ensinaram o pouco que sabemos sobre estas andanças do futebol de rua. Tudo o que aqui temos feito relacionado com o futebol de rua, a eles devemos.     Sem rodeios: saímos da Quinta do Cabrinha animados com a tarde que íamos passar a Carnide, e sem expectativas nenhumas em relação à classificação que iriamos obter no torneio. Nem sequer foi uma questão que fosse levantada por alguém (mesmo, nem o mais competitivo dos nossos jogadores falou de tal […]

O Cabrinha Campeão


Este é um texto especial. O  Michele Spatari, um aprendiz de arquitectura italiano, passou de rompante pela Quinta do Cabrinha. Esteve em Lisboa até ao princípio deste mês de Junho a colaborar com o Colectivo Warehouse e achou por bem vir fotografar a Quinta do Cabrinha e as suas gentes. As palavras dele serão sempre melhores que as nossas para perceber o como e o porquê de isto ter acontecido. Ficam a entrevista e algumas das imagens que nos deixou. Olá, Michele. Podes apresentar-te? Ciao! O meu nome é Michele Spatari e sou um estudante de arquitectura italiano à procura do meu caminho no fotojornalismo, fotografia documental e nos media noticiosos em geral. Eu sei, é um caminho árduo. Nasci numa cidade de média escala italiana chamada Bolonha em 1991 e tive sorte suficiente para, durante os últimos anos, ter a oportunidade de viver em sítios como Lisboa, Beirute e […]

O que vê um fotógrafo italiano no Cabrinha?



Há um ciclo que chega ao fim no Outros Campeonatos de onde emergem relações criadas, trabalho feito e o esforço conjunto da abertura do bairro a outras comunidades espalhadas pela cidade. As visitas que estavam programadas para estes primeiros meses de projecto chegam ao fim, com a presença do Campolide Soma&Segue – E6G na Quinta do Cabrinha. Há uma sensação de satisfação por tudo o que foi feito até agora dentro da comunidade da Quinta do Cabrinha. Era muito pouco provável que quem cá passou durante estes meses o tivesse feito de outra forma. É também esse o trabalho, sim, proporcionar estes encontros, mas não é a isso que sabe. É importante ver as coisas a acontecer com olhos de quem vê e o que vemos é crescimento. Crescimento que acontece no relacionamento com o outro e com a colaboração de muita gente da comunidade na organização deste evento. É […]

Outros Campeonatos Soma e Segue


Após a tendência do século XX de casas okupadas, trazemos para o século XXI uma nova necessidade: okupar rios. Ao usar modelos económicos insustentáveis, as comunidades urbanas têm perdido os seus rios como um bem comum. É urgente resgatar a relação antiga entre ambos. Como okupar um rio é uma ferramenta de aprendizagem de investigação e desenvolvimento, que visa mostrar como uma comunidade pode resgatar um rio pelo bem comum.     A relação rio-cidade é essencial para o desenvolvimento urbano. A disponibilidade de água foi sempre um dos factores decisivos para o estabelecimento definitivo das populações. Com o avanço industrial, as relações rio-cidade mudaram. Existe uma separação funcional, causada por grandes obras de correcção perpetradas nos rios urbanos, agravadas pelos fortes níveis de poluição de dos leitos e margens. Se os maiores rios são utilizados quase que exclusivamente para fins económicos, os mais pequenos, geralmente extremamente poluídos, constituem, nas […]

Como okupar um rio – introdução ao projeto