Fumaça: Paulo Pena: “As redes sociais devem ter, pelo menos, as regras que os órgãos de comunicação social têm”


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Entrevista Ricardo Esteves Ribeiro
Edição de Texto Pedro Miguel Santos
Preparação Ricardo Esteves Ribeiro e Margarida David Cardoso
Som Bernardo Afonso

29 Outubro 2020
06:00

Há cerca de dois anos, em outubro de 2018, foi publicada uma das mais conhecidas fake news portuguesas. Uma imagem manipulada alegava que Catarina Martins, deputada e líder do Bloco de Esquerda (BE), usaria um relógio suíço avaliado em 20,9 milhões de euros – uma ideia já experimentada no Brasil. Em pouco tempo, centenas de partilhas nas redes sociais ilustravam a indignação com o caso. 

Ironicamente, o conteúdo falso teve origem numa publicação que visava alertar para o perigo das fake news, tendo sido cooptado e republicado pelo site de desinformação Direita Política como sendo verdadeiro. A publicação foi denunciada por vários órgãos de comunicação social e rapidamente negada pelo gabinete de imprensa do BE. Mas, para além disso, tudo ficou na mesma. O responsável pela publicação não foi multado, o dono do website não foi investigado judicialmente, às plataformas como o Facebook ou a Google, onde o conteúdo foi disseminado, nada aconteceu, e o Direita Política continua ativo.

“Existem cerca de 40 a 50 sites portugueses a produzir diariamente fake news e são um negócio lucrativo”, diz Paulo Pena, jornalista e fundador do Investigate Europe, uma cooperativa europeia de jornalismo de investigação. A razão porque continuam no ativo e a dar dinheiro é simples: plataformas como a Google ou o Facebook dão-lhes palco e até pagam receitas publicitárias sobre a desinformação produzida. Este “duopólio mundial com milhares de milhões de clientes – basicamente, todos nós” não só contribui para o crescimento das fake news como é imune à responsabilidade de as publicar. Isto porque, ao contrário de um órgão de comunicação social registado na Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC), redes sociais e plataformas online não têm de prestar contas por difundirem mentiras ou não respeitarem a Lei da Imprensa ou o Código Deontológico de Jornalistas

Isso tem de mudar, defende Paulo Pena: “O que faz sentido é que as redes sociais sejam controladas por mecanismos democráticos (…) Devem ter, pelo menos, as regras que os órgãos de comunicação social têm.”
Nesta entrevista gravada online, num evento organizado pela associação sem fins lucrativos Academia Cidadã, conversamos com o autor de “Fábrica de Mentiras. Uma viagem ao mundo das fake news”. Falamos sobre a indústria das notícias falsasem Portugal, o papel do jornalismo na propagação e no combate à desinformação, a regulação das plataformas digitais e as eleições estadunidenses da próxima semana.

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