Bairro Alto: uma cidade é muito mais que um parque de diversões


[artigo redigido pela Leonor Duarte, no âmbito do Cine Café Turisticação: Alto Bairro]

 

Ontem, no Lisboa Vadia, os lisboetas puderam assistir ao filme “Alto Bairro” e discutir a gentrificação e a turistificação do Bairro Alto.

Observamos, com alguma revolta, como este bairro tem vindo a perder a vida que o caracterizou, sobretudo a vida diurna, seja pelo fecho das lojas de comércio local, bem como lojas de outros ramos como a moda, alfarrabistas e outros, seja pela saída de muitos antigos moradores. São estes os factores que nos mostram como o Bairro Alto está a ser vítima de um fenómeno que já muito por aí se fala, que é a gentrificação. E foi tão animado o debate, que foi difícil terminá-lo.

 

cine café Alto Bairro

 

Há quem ache que o Bairro se tornou num parque temático, um grande bar a céu aberto e que, quem lá vai para se divertir, nem se lembra ou mesmo sabe que existem moradores. Por seu lado, o pequeno comércio tradicional foi desaparecendo, fruto da desertificação e, mais recentemente, da lei das rendas e da especulação imobiliária. Foram-se o posto clínico e a farmácia, só restando um barbeiro; e, num dos belos alfarrabistas onde John Malkovich dava dois dedos de conversa… agora só se pode comer um gelado.

Daí à pergunta, o que queremos para a zona histórica de Lisboa? Uma zona residencial com turismo, com bares e comércio, ou um parque turistificado estilo Veneza, que, conforme se prevê, em 2030 não terá mais habitantes?

 

A cidade deve ser pensada para os seus habitantes ou apenas para a exponenciação dos lucros privados?

 

Outras dúvidas foram surgindo: o que ganham as entidades públicas com a monocultura do turismo de massas? O que acontecerá a Lisboa se um grave incidente ou acidente afastar os turistas ? Qual a responsabilidade do lobby das bebidas alcoólicas, na abertura desenfreada de bares? Porque as autoridades não fazem cumprir as leis que protegem o bom ambiente no Bairro? Porque as autoridades são tão permissivas com a abertura de alojamento temporário?

No Bairro Alto há empresários que se sentem prejudicados, redes de solidariedade social que se vão perdendo, panfletos semanais a propor a compra das casas, tectos a cair em cima de quem reside. Fabiana Pavel, arquitecta e investigadora, reforçou a ideia de que o encanto de Lisboa reside na vida diária e que é mesmo isso que está a desaparecer.

 

O turismo tem trazido reconstrução e emprego mas, por este andar, os turistas virão para se ver uns aos outros…

 

Houve também quem salientasse questões de fundo como a necessidade de lutar por valores sociais e culturais um tanto esquecidos e se mostrasse preocupado com a atitude dos jovens. E no entanto,- que fixe! – a maioria dxs presentes, que encheram o bar a ponto de não haver lugar para toda a gente, a larga maioria das pessoas, dizíamos, eram jovens!

 

Houve a proposta de se organizar uma marcha de moradores para exigir maior cuidado e intervenção por parte das entidades públicas.

 

Obrigada à AMBA – Associação de Moradores do Bairro Alto, à produtora Real Ficção e ao realizador do filme, Rui Simões, à Fabiana Pavel e a quem compareceu.

Para o próximo mês há mais: assistiremos, no dia 15 de março, ao filme “Cidade Guiada”, e falaremos acerca dos efeitos do turismo no bairro da Mouraria, com a presença da realizadora Catarina Leal, da Joana Jacinto do projeto Lisbon Sustainable Tourism, e também do João Seixas, investigador na área do urbanismo.

Fiquem atentxs!

 


 

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