Festejamos o amor pelos dois, mas não reconhecemos o amor a 3 ou a 4… Um país governado por uma geringonça tem de aceitar as geringonças do amor.
Hoje, erguemo-nos como uma fénix, por todas as lutas, porque elas se entrecruzam. Mas ainda mais pelas pessoas trans, que estiveram sempre à cabeça das lutas queer, deram o corpo ao manifesto e às balas, e continuam a ser as mais discriminadas, também por esta comunidade.
Por elas e por nós, hoje e sempre, não façamos silêncio e tanta gente.
Porque o povo avança é na rua a gritar!
O general Galvão de Melo já nos tinha avisado que o 25 de Abril não tinha sido feito para as prostitutas e homossexuais mas, pelo menos, esperávamos que os nossos livros de história, em 2017, não falassem da colonização esclavagista como se tivessem sido oceanos de amor.
Queiram ou não queiram, generais ou capitães, lutaremos pelo reconhecimento e eliminação de todas as discriminações. Nas escolas, nos empregos, no acesso à saúde e à habitação. Não nos calaremos.
“Não importa sol ou sombra; camarotes ou barreiras; toureamos ombro a ombro; as feras.“
Porque quando cai a noite na cidade, há mais uma idosa a ser expulsa de casa, já que o Airbnb é a nossa nova lusitana paixão. Essa idosa, uma de nós, pode muito bem acabar num lar onde o inteligente lhe diz que se acabaram as canções, que não se ponha com amores de água fresca ou será expulsa, isolada, medicada até se esquecer da sua identidade que tantos anos e temores lhe custaram a assumir.
As pessoas idosas LGBT existem!
Há um mar que nos separa do dia em que mais nenhuma mulher tenha que implorar ao seu ex-companheiro violento: “não sejas mau pra mim“, porque a justiça funcionou e depois do adeus o agressor foi punido e impedido de a atormentar. Hoje pedimos mais do que um memorial, tão necessário, a todas as vítimas de violência doméstica: mulheres, homens, trans, crianças, idosos, pessoas com deficiência. Bem bom era termos um sistema de justiça que não fosse machista, misógino, conservador e, acima de tudo, que funcionasse.
Estamos também aqui para dizer adio, adieu, aufwiedersein, goodbye à extrema-direita que usa os direitos das mulheres e das pessoas LGBT como arma de arremesso da sua islamofobia. Mas que quer impedir o refúgio a quem foge de linchamentos ou de ser atirado do topo de prédios, sabotando embarcações de refugiados no mediterrâneo.
Já nós dizemos “que venham todos de vontade; Que tragam todos os festejos; E ninguém se esqueça de beijos; Que tragam prendas de alegria; E a festa dure até ser dia.“
Minhas senhoras, meus senhores ou nenhuma das anteriores, o nosso coração não tem cor!
E sabemos que, se não formos nós a reivindicar os nossos direitos, não há senhora do mar que nos valha.
Por isso, a todas as pessoas que participam na Marcha do Orgulho damos Twelve Points, Douze Points!
Lê também aqui o manifesto da comissão organizadora da Marcha do Orgulho LGBT de Lisboa 2017