O Amor é a nossa arma! (vídeo) Discurso @ Marcha LGBT Lisboa 2016


O que aconteceu em Orlando tinha como alvo as pessoas queer. Quis matar a diferença, o “estranho” aos olhos de uma sociedade que rejeita tudo o que não é branco, hetero, cis, respeitável na moral e nos bons costumes.

É uma fogueira de desprezo, que vem de há séculos, alimentada por religiões, governos e fanatismos vários. É uma fogueira machista. Misógina. Patriarcal.

É uma fogueira que queima quem foge à norma: paneleiros, fufas, pretos e pretas, ciganos e ciganas. Não lhe fogem bichas, trans, efeminados, marias-rapazes, mulheres em geral, migrantes e refugiadas em particular; não tolera pobres, fora de modas, gordas e gordos. Arde mais viva quando várias destas categorias se juntam numa só pessoa. E ainda mais quando envelhecemos.

É uma fogueira que queima nas ruas, nos transportes, nos locais de trabalho, nas redes sociais, nas caixas de comentários, onde vamos para nos divertir, passear, respirar.

É uma fogueira que reduz a cinzas a diversidade.

É a fogueira do “façam lá isso em casa”, do “gays pode ser, bichas é que não”, do “desde que não se metam comigo” ou do “não é natural”.

Mas é também a fogueira do “não frequento o meio”, do “sou discreto”, do “vou ao arraial mas não vou à marcha”, do “não há paciência para feministas”, do “olha-me estas as camionas”, do “se quer ser mulher não pode ter barba, muito menos uma pila”.

É uma fogueira para onde cada uma e cada um de nós já mandou achas. Porque também discriminamos entre nós. E não é pouco.

Não é porque são pequenos galhos, que deixam de fazer arder o lume. Geração após geração. Dos que estão à rasca aos remediados.

Pois bem, na Academia Cidadã, rejeitamos esta fogueira. Só queremos o fogo do amor.

Apagaremos a fogueira com beijos na boca, plumas, purpurinas, muita música, megafones ao alto e cartazes nas mãos. Nos nossos trabalhos precários, havemos de a apagar pelo ativismo, pela democracia, pela cidadania, contra as políticas retrógradas que nos impõem. Contra todas as formas de opressão!

Porque as lutas, mesmo que diferentes, têm que ser solidárias.

Vamos apaga-la rejeitando a manipulação, a propaganda, a desinformação. Recusando sermos usadas para alimentar outras fobias.

Nas ruas, nas discotecas, nos jardins, nos carros, nos quartos-escuros, nas saunas, nos jardins, nas praias, ao luar. Vamos apaga-la fazendo muito sexo, dando e recebendo… muito amor!

Sozinhas, a 2, a 3, a 4, à molhada. Como mais vos der prazer. E se não for a fazer sexo, também pode ser a comer.

Havemos de a apagar educando os nossos filhos para a alteridade, para a empatia.

Havemos de a apagar um dia. Se quisermos, hoje pode ser o dia!»

Por sua vez, o manifesto encontra-se disponível em video e para leitura na página oficial da Marcha.

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