Muitas foram as ideias e as motivações partilhadas durante os cinco dias do Campus Shifting Baselines, organizado pela European Alternatives.
Entre os dias 23 e 27 de Agosto, 80 ativistas de áreas tão diferentes como o artivismo; média independentes; profissionais ligados à área de desenvolvimento e cooperação de comunidades, organizações e grupos; e profissionais ligados aos munícipios, organizações Europeias para cooperação entre países, movimentos urbanos radicais, ou organizações e instituições de desenvolvimento local e trabalho comunitário (novos municipalismos).
Depois de chegarmos ao palacete, as boas-vindas foram sem dúvida muitas – uma continuação da viagem desde Berlim, e que nos levou àquele que viria a ser um espaço-incubadora para todos nós.
As alternativas Europeias muito diferentes das nossas
O primeiro debate teve a forma de Fish-Bowl, onde discutimos aquilo que foi um dos principais focos deste encontro: como promover uma mudança de narrativas para juntos podermos criar uma ideia de Europa mais inclusiva, tendo em conta problemas Europeus tão sensíveis como o crescimento da extrema-direita, a resposta ineficaz face às necessidades e direitos dos migrantes, ou a chegada cada vez maior de refugiados a muitos países Europeus.
Com isto, e durante cerca de duas horas, foram muitos os temas debatidos: como promover ações concretas de forma a mudar o discurso dos média mainstream; de que forma é que nos podemos apoiar a um nível transnacional, que tente encontrar alternativas a muitos dos problemas atuais; como podemos desenvolver práticas artísticas, de forma a tomarmos ações mais eficientes em relação a problemas sociais, políticos e económicos; de que forma é que podemos criar uma rede entre várias práticas urbanas e novas formas de municipalismo, de forma a reclamar uma cidade mais inclusiva, democrática e diversificada, e, por último, como é que nos podemos relacionar no futuro e criarmos parcerias e redes para projetos em conjunto foram algumas das perguntas que nos marcaram durante todos estes dias.
Durante o debate, foram muitos os participantes que criaram uma ponte entre as várias situações políticas e económicas atuais e o que podemos fazer para criar e propor alternativas.
O crescimento dos partidos de extrema-direita e as novas formas de discurso político promovidos por vários destes grupos têm representado aquilo que tem sido uma nova narrativa popular anti-imigração e anti-refugiados, muito longe do discurso radical dos grupos neonazis.
Como criar formas de resistência a estas campanhas cada vez mais jovens e populares, bem como promover ações e projetos de solidariedade e de de boas-vindas no contexto urgente dos refugiados e imigrantes na Europa foram também um dos objetivos deste encontro.
Também nos perguntamos o que pode ser feito de forma a criar ações face a todas as políticas e narrativas nacionalistas e neo liberais que temos vivido dia após dia. O que significa realmente alternativas Europeias? A propaganda da nova extrema-direita é um dos exemplos mais marcantes. Marcantes porque construiu uma ideologia de soliedariedade racista e xenófoba que tem sido muitas vezes compreendida.
Também eles tentaram encontrar uma alternativa para os problemas Europeus. Mas uma alternativa que profundamente rejeitamos.
Também durante este debate, discutimos o conceito de identidade nacional e de que forma é que podemos exprimir uma ideia de pertença a um país, sem representar qualquer ideia nacionalista.
Como resposta, alguns dos participantes negaram a própria ideia de país, que deveria antes dar lugar à ideia de espaços de conflito, resistência, dinâmicas sociais e poder económico.
Depois de muitas destas perguntas, juntámo-nos todos para um barbeque no jardim, e continuamos a partilhar muitas ideias e projetos que haveríamos de desenvolver durante os próximos dias.
Os pequenos-almoços foram sempre momentos de conversas informais, que nos ajudaram a começar a manhã com inspiração e motivação para continuar a fazer a diferença.
Um dos exercícios do segundo dia foi o Worldcafe, que teve lugar no jardim e que sem dúvida nos preparou para as sessões de cada área: cada partipante foi convidado a juntar-se às três mesas de trabalho que não faziam parte do seu próprio grupo, o que nos permitiu dar ideias e ficar a conhecer melhor cada um dos objetivos das outras mesas. No meu caso, que era do grupo das cidades, juntei-me aos grupos do artivismo, média e networks.
Os momentos de pausa revelaram-se tão importantes como os momentos de trabalho. Aqui, partilhámos e ouvimos muitos sonhos e ideias para o futuro, e abrimos portas para novas projetos, também em conjunto.
As sessões livres de conversa, deram a muitos de nós a possibilidade para conhecer muitos dos projetos de vários participantes, numa das salas mais acolhedoras do palacete! Do teatro comunitário e das intervenções urbanas à questão do Brexit, da urgência em promover ações de solidariedade para com as mulheres refugiadas até às assembleias populares em Messina, muitos foram os projetos que nos inspiraram a acreditar que nunca estivemos sozinhos.
A performance artística Olimpic Rio offence/defense, do artista brasileiro Nicolas Dantas, e com a participação de Caitlin Fisher, atleta e ativista pelos direitos LGBTIQ, foi sobretudo um desabafo de quem teve que deixar a própria casa.
Num contexto muito atual dos jogos olímpicos, produzido num país onde o racismo, os desalojamentos, ou as enormes diferenças sociais são vividas dia após dia – e pouco denunciadas pelos grandes meios de comunicação sociais – a performance também nos lembrou as nossas próprias experiências e o que também sentimos na Europa, espaço este onde a pobreza, a hierarquia, e a grande desigualdade económica entre países continua em muito a sentir-se.
Depois de uma viagem em conjunto de volta a Berlim, encontrámo-nos todos no dia seguinte para a Assembleia Geral da European Alternatives, onde se discutiram os projetos anteriores, as dificuldades e as perspetivas futuras. Também se refletiu sobre aquilo que foram as conclusões de cada stream durante o Campus, e aquilo que cada um espera desenvolver a seguir.
Para além disso, questões como promover uma maior diversidade e inclusão foram aqui muitas vezes apontadas – e que refletem um dos fortes objetivos futuros da organização.
O Campus foi mais do que um espaço de discussão, foi um encontro de partilha de ideias entre muitos e muitas que, dia após dia, dão vida a Associações, ONG’s e a todos os projetos que continuam a acreditar que uma outra Europa é possível. Uma Europa que abraça também todos aqueles que não são europeus.
Uma Europa das alternativas.
Sara Aranha
Academia Cidadã